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Tsai Ming-Liang: Mestre de um cinema humano e filosófico

14/12/2010

Os mais de cem estudantes que estiveram presentes na palestra de Tsai Ming-Liang tiveram uma experiência, sem dúvida, bastante enriquecedora e proveitosa. Afinal, não é todo dia que temos o privilégio de receber na Universidade um dos mais sensíveis, experimentais e renomados artistas da cena contemporânea internacional, já premiado 39 vezes nos mais importantes festivais de cinema do mundo, como Berlim, Cannes e Veneza.

Dácia Ibiapina, Alfredo Shu (diplomata que realizou a tradução), Tsai Ming-Liang e o Embaixador de Taipei, Guang Pu Shyu

Tsai estava visivelmente empolgado em falar com os estudantes. Desde o início de sua carreira até o reconhecimento de seu trabalho, o cineasta falou com muita irreverência e descontração de diversos assuntos relacionados à sua rica experiência de diretor, roteirista e produtor. Entre os pontos de destaque, estão as adversidades encontradas para a circulação de seus polêmicos filmes, a paradoxal simplicidade e complexidade dos temas por ele abordados (que sempre tratam da condição humana no mundo moderno), e a luta contra a indústria hollywoodiana, de filmes ricos em efeitos especiais, porém, geralmente pobres em conteúdos.

Sobre este assunto, Tsai foi direto: “Os filmes que tem mais público, são os que tem menos conteúdo. E os que tem menos público, são os que tem mais conteúdo”. Tsai comentou ainda sobre a dificuldade de circulação de produções de cineastas como ele, chegando a casos de censura de seus filmes (como ocorre na China).  Falou ainda que não se importa com a quantidade de pessoas que tem acesso à sua obra, mas sim com o impacto e os potenciais efeitos multiplicadores que seus filmes causam nas pessoas. “Sabemos que as dificuldades são grandes, mas isso não é motivo para não resistirmos e buscarmos transformar a realidade”.

Para a cineasta e professora da Faculdade de Comunicação, Dácia Ibiapina, apesar da visita do Tsai à UnB ter sido articulada de repente, com pouco tempo para organização, o resultado foi muito interessante. “A Universidade tem que estar sempre nesse diálogo com a sociedade, principalmente no caso do curso de Comunicação. A visita dele foi inesperada, mas muito positiva. Na minha opinião, foi uma das coisas mais interessantes que aconteceram na UnB nos último tempos”.

Mais de cem estudantes prestigiaram a atividade e a maioria permaneceu até o fim.

Dácia Ibiapina, que é indiscutivelmente uma das grandes expressões do cinema da Capital dos Brasis, ressaltou ainda que a palestra veio em um momento essencial: “Acho muito importante os estudantes terem a oportunidade de ouvir o Tsai, porque hoje tem se ouvido muito nas Universidades a idéia do cinema digital, com efeitos especiais e aparatos tecnológicos, e o Tsai traz um cinema que não é nada disso. Um cinema de reflexão, filosófico, o cinema como uma obra de arte e de expressão do ser humano, e isso, sem dúvida, faz diferença e ajuda na vida acadêmica para não enveredarmos cegamente para um cinema meramente tecnológico”.

Com certeza deu vontade de conhecer mais a obra deste grande diretor taiwanês nascido na Malásia, não é? Então para quem é de Brasília, não dá pra perder o restante da mostra Tsai Ming-Liang, o Homem do Tempo que está no CCBB até este domingo, dia 19, trazendo a maior retrospectiva já realizada sobre o cineasta. A mostra traz os principais filmes de Tsai, com destaque para títulos premiados e inéditos, entre longas e médias-metragens, telefilmes e documentários feitos sobre Tsai e seu cinema. Ao todo, serão exibidos nove longas-metragens – cinco deles inéditos no Brasil –, três médias-metragens (feitos sob encomenda para festivais e instituições) e dois documentários sobre Tsai Ming-Liang, todos também inéditos no país, além de um episódio assinado pelo diretor para o longa-metragem coletivo Cada um com seu cinema, realizado em comemoração aos 60 anos do Festival de Cannes, com a participação de outros ícones do cinema mundial como Billy August, Roman Polanski e o brasileiro Walter Salles .

O CUCA do DF e a organização da 1ª Bienal Universitária de Arte, Ciência e Cultura do DF agradecem muito à professora Dácia Ibiapina e aos professores Wagner Rizzo e David Pennington, sem os quais jamais seria possível aproveitar esta chance de trazer o Tsai à UnB, em nome dos quais estendemos o agradecimento à Faculdade Comunicação e aos estudantes do curso de Audiovisuais. Agradecemos ainda à Embaixada de Taipei que gentilmente realizou a tradução, à Ginja Filmes e Produções pela oportunidade, à UnBTV pela cobertura do evento, e ao DEA/DAC, ao IdA, ao DCE Honestino Guimarães, ao CACOM, ao CAVIS, à Cooperativa 17n, ao Coletivo UNOS e à Cia Asa’s pelo apoio recebido.

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